11 provas de que a volta ao passado está em alta na música da atualidade

Por Bryan Dance Floor

Desde o fim de 2019, grandes artistas da música pop, dance e eletrônica mundial estão lançando músicas em estilos de décadas passadas — mais especificamente dos anos 70, 80 e 90 –, ou usando samples de músicas dessas mesmas décadas em suas produções atuais. Será que essa onda saudosista é um sinal de que a música da década de 2020 terá como tônica esse retorno ao passado?

Veja abaixo uma lista de onze músicas que provam que a música do passado está muito em alta na música de hoje em dia:

The Weeknd – Blinding Lights

“Blinding Lights” foi lançada em 29 de novembro de 2019 como segundo single de “After Hours”, quarto álbum do artista canadense The Weeknd. O gênero da música pode ser definido como synth-pop (abreviação de synthesizer pop) ou synthwave. O synth-pop é um estilo musical que foi pré-definido na década de 1960 e início na década de 1970, e caracterizado pelo uso do teclado sintetizador como instrumento musical dominante, substituindo a guitarra. Começou a ganhar destaque no cenário musical no fim dos anos 70 e alcançou o auge nos anos 80, permanecendo presente por toda aquela década. Alguns dos artistas mais conhecidos do synth-pop são Depeche Mode, Eurythmics, Human League, Erasure, Pet Shop Boys, Information Society e o grupo alemão Kraftwerk, que é considerado o pioneiro do estilo. Já o synthwave é um gênero da música eletrônica que surgiu em meados dos anos 2000, influenciado por músicas e trilhas sonoras dos anos 80. O estilo contém elementos clichês da década de 1980, como bateria eletrônica, “gated reverb”, sintetizadores analógicos, mas também incorporou técnicas modernas de produção como compressão de cadeia lateral e elementos de vários de gêneros modernos da música eletrônica, como o electro house. Desde que foi lançada, “Blinding Lights” foi muito associada e comparada na internet ao clássico dos anos 80 “Take On Me” (confira aqui), da banda A-ha, justamente pelo estilo da produção da música.

Dua Lipa – Don’t Start Now

O novo álbum da cantora inglesa Dua Lipa inicialmente estava previsto para ser lançado no dia 03 de abril de 2020, mas devido a um vazamento duas semanas antes, o lançamento foi adiado para o dia 27 de março. “Future Nostalgia” foi criado com a ideia de ser um álbum de pop “nostálgico” e disco music, com influência de dance-pop e música eletrônica. O primeiro single do álbum, “Don’t Start Now”, foi lançado com bastante antecedência ainda no ano anterior, mais especificamente no dia 01 de novembro de 2019. Além de dance-pop, a música pode ser considerada como tendo um estilo disco ou nu-disco. Disco, como todos sabem, é um estilo de música para as pistas de dança surgido nos anos 1970 e que antecedeu a dance music que conhecemos hoje em dia. Já o nu-disco seria a mesma coisa que “new disco” ou, em português, “nova disco”. Ou seja, é um estilo de dance music do século 21 com influência e características da disco music das décadas de 70 e 80.

Dua Lipa – Physical

Já “Physical”, o segundo single do álbum “Future Nostalgia” de Dua Lipa, foi lançado no dia 31 de janeiro de 2020. E dessa vez a influência musical puxou mais para o pop e o synth-pop dos anos 80, com direito até a uma letra que remete a um hit de mesmo nome de 1981, lançado pela cantora e atriz Olivia Newton-John. No dia 06 de março, Dua Lipa lançou até um segundo videoclipe para a música — chamado de “work out video”, ou, em tradução livre para o português, de “vídeo de malhação” –, que remete mais ainda aos anos 80 e ao clássico clipe “Physical” (confira aqui), de 1981.

Daddy Yankee Feat. Snow – Con Calma

Em janeiro de 2019, o rapper porto-riquenho Daddy Yankee lançou o single “Con Calma”, um reggaeton que alcançou o topo das paradas em 20 países e o top 10 de outros 10 países. A música é uma repaginação do sucesso do rapper Snow “Informer”, de 1992. Snow, inclusive, também participa dessa nova versão de sua música lançada por Daddy Yankee. Aliás, “versão” não é a palavra preferida do porto-riquenho. Ao falar sobre esse trabalho em uma entrevista, o rapper declarou que “é preciso fazer uma homenagem a um clássico ao invés de fazer uma nova versão dele”. Um remix da música com participação de Katy Perry também foi lançado em abril de 2019. Confira abaixo a homenagem de Daddy Yankee ao hit “Informer“, dos anos 90.

Black Eyed Peas, J Balvin – RITMO

No ano passado, o grupo americano Black Eyed Peas e o cantor colombiano J Balvin se juntaram para dar um novo toque a um clássico da Eurodance dos anos 90. Em 11 de outubro, eles lançaram a faixa “RITMO”, que sampleia o hit “The Rhythm Of The Night“, do projeto Corona. Essa produção atual, lançada como carro-chefe da trilha sonora do filme “Bad Boys For Life”, é uma fusão de reggaeton, música eletrônica e hip hop, que apresenta o refrão da clássica “Rhythm” (canção que se tornou um hit mundial no ano de 1994), tocando ininterruptamente junto com os novos versos em inglês e espanhol de “RITMO”. “Eu quis reinventar “Rhythm of the Night” e dar a ela uma vibe minimalista, futurista e reggaeton de fusão afro”, declarou o líder do Black Eyed Peas will.i.am, em um comunicado à imprensa. Ainda no final de outubro de 2019, “RITMO” já tinha entrado em alguns rankings da Billboard, e até fevereiro desse ano de 2020 a música ainda podia ser vista no primeiro lugar de inúmeras paradas da revista americana, como a Dance/Electronic Songs e a Latin Songs. Já no Hot 100, o chart principal de singles, a música alcançou a posição máxima de número 26, permanecendo ainda no ranking até hoje (até o dia 13 de abril de 2020, “RITMO” ainda permanecia na vigésima sexta posição do chart). Ou seja, no total a faixa já atingiu um total de 19 semanas de duração na parada até a publicação deste artigo. E torna-se importante lembrar também que já fazia muito tempo que o Black Eyed Peas não conseguia emplacar um sucesso no Hot 100 da Billboard. A última aparição deles por lá foi em 2011, quando a Fergie ainda fazia parte do grupo. Esse é o poder de se usar um hit do passado para se criar um novo hit na atualidade!

Static & Ben El, Pitbull – Further Up (Na, Na, Na, Na, Na)

Em janeiro deste ano de 2020, a dupla israelense Static & Ben El, em parceria com o rapper americano Pitbull, lançou “Further Up (Na, Na, Na, Na, Na)”, música que também bebeu na fonte dos anos 90 e reinventou o refrão de outro hit desta década: “Here Comes The Hotstepper”, do artista jamaicano de reggae e dancehall Ini Kamoze, lançada em 1994 (confira aqui). “Further Up” é uma mistura de dance-pop, reggaeton e hip hop, que ganhou no final de fevereiro uma segunda versão intitulada “Subelo“, com versos em espanhol, voltada para o mercado latino, e com participação da cantora porto-riquenha Chesca.

Shakira, Anuel AA – Me Gusta

A colombiana Shakira embarcou na mesma onda e lançou também em janeiro deste ano, em parceria com o rapper porto-riquenho Anuel AA, o single “Me Gusta”: outro reggaeton que pegou emprestado um refrão de sucesso nos anos 90. Dessa vez, a música a ser usada foi “Sweat (A La La La La Long)”, um hit de 1992, da banda de reggae jamaicana Inner Circle (confira aqui).

Bruno Martini, Avian Grays, TRIXL Feat. Mayra – Save Me

No dia 07 de fevereiro de 2020, o músico, produtor e DJ brasileiro Bruno Martini lançou pela Universal Music a faixa “Save Me”, em parceria com Avian Grays, TRIXL e Mayra. A música apresenta alternadamente um trecho reproduzido do clássico da música dance/trance/eletrônica “Better Off Alone“, do projeto holândes Alice Deejay, que fez muito sucesso mundialmente no final de 1999 e no ano 2000 — ou seja, há exatos vinte anos, época em que o músico paulistano Bruno Martini ainda tinha apenas 7 anos de idade, já que hoje ele tem 27. Com bastante execuções nas rádios brasileiras e repercussão também na cena internacional, “Save Me” é um dos maiores hits dance do momento.

Purple Disco Machine – In My Arms

O DJ, produtor e remixer Tino Piontek, conhecido como Purple Disco Machine, está em uma jornada musical de destaque desde a concepção de seu projeto de música disco house, em 2009. Além de apresentar um catálogo de produções solo e colaborativas, o produtor alemão já produziu remixes para grandes nomes da música mundial. Inclusive, recentemente tornou-se muito famoso o remix que ele produziu para “Don’t Start Now”, de Dua Lipa — versão lançada em dezembro de 2019, um mês após a original. Já em fevereiro de 2020, Purple Disco Machine lançou uma música própria chamada “In My Arms”, que também foi muito bem aceita pelo público e pelos DJs. Um texto sobre a carreira do artista divulgado em seu site oficial explica a origem de sua influência musical: “(…) é importante mencionar que os impressionantes ‘grooves’ disco house de Purple Disco Machine talvez nem existissem se não fosse pelo pai que o introduziu, desde tenra idade, aos sons clássicos do funk dos anos 70 e 80“.

Calvin Harris x Love Regenerator

O DJ, produtor, cantor e compositor escocês Calvin Harris não precisa de apresentações. Mas seu novo projeto Love Regenerator precisa, já que mais do que um projeto, esse é o novo apelido ou codinome que o músico vem usando desde janeiro de 2020 em seus novos trabalhos. Até este começo do mês de abril, quando este artigo está sendo publicado, Calvin Harris já lançou quatro EPs como Love Regenerator, cada um deles incluindo duas músicas diferentes. E qual o motivo de um novo nome para estes novos trabalhos? Justamente por serem trabalhos completamente diferentes dos trabalhos pelos quais ele se tornou conhecido, ou seja, com uma orientação e influência musical completamente diferente. “Eu quis redescobrir o jeito que eu originalmente comecei a produzir música há 22 anos”, explicou o DJ em um comunicado de imprensa. “A fase inicial das raves, breaks, techno e house, a música pela qual eu era obcecado quando eu estava crescendo. Eu fiz tudo que eu podia para fazer as músicas parecerem que vieram de uma cápsula do tempo de 1991. Todos os synths e sons usados são daquele período.” Preparado para embarcar nessa cápsula do tempo junto com Calvin Harris e Love Regenerator? Confira abaixo “The Power of Love II” do segundo EP do projeto, lançado em fevereiro. A música tem sample de um clássico do grupo americano Deee-Lite: “Power of Love“, de 1990.

David Guetta x Jack Back

E Calvin Harris não é o único top DJ produtor global que está voltando às suas raízes e usando um pseudônimo para isso. David Guetta está fazendo a mesma coisa, e em seu caso o nome escolhido para o projeto é Jack Back. Na verdade, foi em 2012 que a primeira faixa de Jack Back surgiu, ao mesmo tempo em que, para isso, era criado também um novo selo chamado Jack Back Records. Mas durante seis anos ficou só nisso. Então, em 2018, em seu último álbum, “7”, Guetta incluiu um set mixado de 13 músicas do projeto Jack Back. “Quando eu comecei, o conceito era club music (música para as casas noturnas), e depois meu tipo de de club music se transformou no novo pop”, explicou o artista francês em uma entrevista. “Muitas pessoas começaram a fazer exatamente a mesma coisa – um festival que você tinha seis horas da mesma música de 128 BPM em Fá menor. Foi uma loucura como o EDM se tornou mais formatado que a música pop. (…) então você pode escolher entre EDM, que soa como há cinco anos atrás, ou tocar underground, que não causa o mesmo impacto”. O que Guetta agora acredita que preenche essa lacuna é o trabalho que ele está fazendo agora com o amigo dinamarquês Morten e, em menor grau, o seu projeto Jack Back. “É influenciado pela cena rave do Reino Unido”, diz ele. “No começo, eu me perguntava como isso funcionaria com apenas eu fazendo esse tipo de som, mas então Calvin Harris começou a fazer isso também com seu projeto Love Regenerator, então agora eu acho que juntos podemos mudar o cenário.” O último single de David Guetta como Jack Back, lançado no dia 20 de março de 2020, chama-se “Superstar DJ”, que é um versão repaginada do clássico de 1999 “Hey Boy Hey Girl“, do Chemical Brothers.

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